11 de dezembro de 2009

Efêmero

Eu vou passar,
assim, como passaram
os que vieram antes de mim.
Longe estão meus avós, meus brinquedos de menina,
longe está a casa da minha infância...
Longe estão as costuras, os vestidos de tecido xadrez e florido
Tudo aos poucos se esvaindo...
Os perfumes perdem suas essências,
os papéis amarelam, as fotografias desbotam...
Tudo hoje me parece distante,
tudo parece estar indo,
tudo hoje me parece hoje tão efêmero...

7 de dezembro de 2009

A poesia da imagem

Ele

Tenho sentido um cansaço diferente...
Um cansaço de ter que ser.
Que bom seria ter tão somente
a exaustão do ofício ao sol,
do labor braçal.
Mas, ter que ser, diariamente,
quem por muitas vezes já não conheço
tem produzido em mim um cansaço infindo...

Ter que ser tem-me feito
perder chaves ou usá-las por demais
Esse cansaço, esse cansaço
não respeita o sono,
não reconhece o colchão
Usa por demais os verbos da exatidão
Esse cansaço, esse cansaço...

As paredes parecem cada vez mais distantes,
as cadeiras escondem-se sob as mesas...
Esse cansaço põe-me sempre de pé
Esse cansaço, esse cansaço, esse...

17 de novembro de 2009

Cansando

Sempre caminhei direito,
mas, ultimamente
reconheço em mim
a tendência de virar-me pelo avesso.

A ilusão

A beleza da curva...
O que esconde ou insinua...
Às vezes, dá vontade
de não terminá-la nunca...

4 de novembro de 2009

A costura da vida

Uma velha máquina
costurou minha vida:
saltando casas,
mastigando pontos,
quebrando agulhas,
embolando linhas...

Candura

Vestida de candura
chegou a poesia
E o dia tornou-se doce
e ricamente bem vestido.

Em tantos outros prédios
vários cotidianos engaiolados
vivem alegremente.
Só eu, passarinho,
passo o dia, assim, calado.

Maquiagem

Um céu velho cobre o meu quintal,
estica suas dobras sobre o telhado
e suas andorinhas
Exibe sua costura e remendos
através das sombras que projeta
no jardim da casa do reverendo
Nas madrugadas frias
chora suas mágoas e chagas
por todo o roseiral
Depois, novamente retoca
com sombras mil, o já puído azul anil...

Ofício de viver

Na falta do papel e da pauta
teço versos em minh’alma
Versos de uma elegância quase triste,
versos de uma quase triste elegância.

19 de outubro de 2009

A poesia da imagem






















Frio

Todo inverno é assim:
o frio interno misturando-se ao externo
e a alma a viver e a tremer seus dois invernos.

Bordado


O tecido,
a fazenda,
o pano.
O linho,
o desalinho da linha.

A costura,
a viagem da agulha.
A linha reta, ponte.
A linha em curva, monte...
E o tecido sem igual.

Amor de menino

Minha professora era uma flor
e eu a guardei nas páginas
do meu livro velho.
Professora pequena,
professora, que pena,
o tempo te amarelou

16 de outubro de 2009

Tecido

O tecido chamou-se cetim
O cetim, vestido
O vestido, chamou-se de festa, de domingo
Missas e festas depois,
a moça viu-se fazendo no tecido um bordado,
mais tarde, um remendo.
Chamou-se roupa de casa,
pano de fundo para o avental.
Com o tempo, chamou-se passado.

(1º lugar no concurso SESI/FIEB de poesia do estado da Bahia)

28 de agosto de 2009

Amor ao porto

Meu barquinho saiu para o mar
vela ao vento, vento a levar, verde a água...
Meu barquinho, um pingo no alto mar.
Vento vinha, vento ia...
O meu barquinho, sorridente,
atracou-se com o porto.
Coitadinho... Não sabia nadar.

30 de julho de 2009

Nome

As Rosas,
As Hortências,
Dálias,
Margaridas...
E eu? Que faço eu na primavera
sem ter nome de flor?

Poeminha para Maria

Na sala o gol alto.
Silêncio por todo o quarto.
Lá no fundo, na cozinha,
as panelas viram brilho
e Maria perde o seu.
À essa hora,
parece que todas as mulheres
estão lavando panelas.