31 de outubro de 2011

Bonina

A beleza da palavra e o colorido da flor
compunham a riqueza do jardim da minha avó
Pequeno, simples até...
A casa de madeira de pintura desbotada
deixava entrever um rosa seco e o verde como que saído da cana
Era lá, perante o desgaste da casa, que a Bonina florescia
Minha avó chamava-me para vê-la
nas raríssimas vezes em que eu a visitava
Tenho na memória a imagem da flor,
mas, o nome perdeu grande parte do encantamento...
Belo mesmo era ouvi-lo dito por ela,
quando pegando-me pela mão falava:
Venha criança pequena, ver o sorriso doce
que nos oferece a Bonina...

5 de outubro de 2011

Os jarrinhos

No tempo em que havia jarrinhos de flores
sobre as mesas das professoras,
o mundo ainda cabia em mim.
Palavras doces saltavam dos livros,
os porquês eram respondidos,
a vida serenava...
No tempo dos jarrinhos
havia uma certeza de pertencer,
os sabores se acentuavam,
cirandas compunham a noite
e a noite permitia-se, assim, se compor
Repleta de afetos, a correspondência chegava
com a mesma naturalidade
com que o rio escrevia suas voltas
A manhã cheirava a café, a tarde a broas.
O perfume era de alfazema e todo mundo
estava sempre cheiroso e satisfeito com essa essência só
Tudo era simples, adoravelmente simples...
Era certo que a vida serenava e isso era o que bastava.
Tudo isso no tempo em que havia
jarrinhos de flores sobre as mesas das professoras...