7 de setembro de 2012


Simples


A cerca velha de bambu guarda o quintal
Onze horas  misturam-se aos temperos 
sob os olhos dos tecidos do varal
A cozinha cheira a pão e café,
a janela verde sorri  e o portão respira aliviado
O tempo, por fim,  vai se deitar.
Tudo é silêncio colhido no pé

16 de agosto de 2012

Enquanto os vejo...


Os varais me encantam...
(escrevo enquanto vejo-os balançar)
São felizes, repletos de possibilidades.
Neles convivem, harmonicamente,
o velho, o cerzido, o novo e o tantas vezes tingido...
O engomado, o mal lavado e o roto
O preto, o branco e o absurdamente colorido.
E todos a mim parecem ser só sorrisos...

8 de agosto de 2012


Aos poucos vão se apagando...


Tenho sentido um cansaço profundo
de querer viver a poesia
contrariando as borrachas negras do mundo
Se faço vestidos florais, logo os vejo rotos
Ensaio brincadeiras de infância
nos mais verdes quintais
Desenho a rima e a letra,
desfaço-me das medidas
nas quais se enquadram temporais
Subo e desço em teias
tecendo novos varais, 
mesmo assim, as borrachas,
de cores de tempestade,
apagam as minhas metades
de futuros milharais.

19 de julho de 2012

Sim



No dia nada havia
Na noite, também
Conforme os dias se passaram,
compreendi que não tinha ninguém.

19 de junho de 2012


Assim

Quando emudeci o dia falava por demais
Varais balançavam-se ao dispor,
mas, nada parecia querer balançar...

Quando emudeci era dia 
e a manhã vestida de sorrisos
estendia-se querendo invadir a tarde,
mas, nada parecia querer sorrir...

Quando falei a noite estava alta
e um sono doce, repleto de sonhos impossíveis,
habitava travesseiros e colchões.
Mas, não havia ninguém para ouvir...
Eu, então, emudeci.

17 de abril de 2012

Laço

Eu sei quando você vem...
Dona do meu destino,
regente do que ensino,
mestra do que ainda nem sei
 A porta sempre aberta,
a caneta já a mão
Manda que eu obedeço,
semeia que eu já floresço,
insinua que eu dou a mão
Meu nome não é o que conta,
eu sou apenas uma conta
no rosário do teu coração
Pede que eu refaço,
manda que obedeço,
Chega sem marcar a hora
estabeleça-se sem demora
Dita a palavra e dê a rima
Eu sou a linha
Não permita o meu desalinho
Conduza-me,
leva-me à calmaria,
pois, és o rico bordado ao qual chamo POESIA.

Encaixe

Queria saber,
mas, juro que não sei
Não me encaixo,
não me acho como acham vocês
Se o sol se põe,
já é madrugada no meu tempo
Se chove e você se cobre com as telhas da varanda,
eu já me encharquei e me sequei
Quando o sal é ainda pitada,
eu há muito me salguei
Juro que não sei
Não me encaixo,
não me acho como acham vocês.

11 de abril de 2012

Resquícios

Quando eu era menina
as frutas eram mais doces
Choviam esperanças
enquanto as janelas respiravam
Nos vestidos haviam
botões de quimeras
As palavras sorriam encantos...
Quando eu era menina
bebiam-se gentilezas,
falavam-se doçuras
No tempo dos jardins,
dos perfumes e afins
No tempo dos quintais,
das flores dos laranjais,
das brincadeiras mais brejeiras
Uma época de melados
que hoje vive em guardados,
potes de infância verdes e carmim 
Resquícios de menina,
conservas de mim. 

2 de abril de 2012

Prenúncios

O tempo fechou em mim,
o sol anda longe...
É noite alta,
estou tarde da noite.

1 de março de 2012

Os remendos

Há muito tempo não tenho o prazer
de costurar em um tecido novo
Vivo de remendos.
De fazer incontáveis disfarces
no pano já roto
Olho a mesa de costuras
com sua madeira velha,
a tesoura pousada sobre a almofada de cetim azul...
Tão gasto...
Alfinetes e agulhas enferrujam por todo lado
em uma vida sem porquês
Em mim, o deserto se instala
e, pouco a pouco, tempestades de areia
cobrem o que antes era belo...
Hoje, sexta-feira, como em todos
os outros dias, não há novidades...
Então, ponho-me a remendar e emendar
os retalhos de uma já distante primavera...

4 de fevereiro de 2012

A conquista


Buscando ser flor, fiz-me semente
Na ânsia de fazer-me bela,
encantei-me certa vez
com um tecido de delicadeza ímpar
que vivia a cobrir um eletrodoméstico
Conquistei aquele primor
e senti, por fim, na pele,
como são lindas as capinhas de liquidificador...

11 de janeiro de 2012

Bonitinho

Bonitinho é receber uma só  flor
vinda ali mesmo do cantinho, da esquina...
Uma Margarida, Onze horas, Bonina...
Ou ainda aquela que nem mesmo o nome se conhece...
Bonitinho é apelido com carinho,
declaração em guardanapo,
chá para quem está gripado...
Bonitinho é chegar quando não se espera
é acreditar em sonhos e falar quimeras,
é dividir comida no prato mesmo raso e raro
Bonitinho é saber que a infância passou,
mas que ainda tenho direito a recreios...

8 de janeiro de 2012

Rasos

Teu olhar, pouco a pouco,
vem deixando de ser meu espelho
Leituras turvas, reflexos embaçados...
Olhos rasos, rasos demais
para que seja possível a mim
voltar a mergulhar...

6 de janeiro de 2012

Por ignorar

A rua tinha uma alma de sorriso triste...
Eu, contentamentos a oferecer
Mas seus clamores estavam escritos
em língua estrangeira
Por mais que eu quisesse afagá-la,
nunca pude compreendê-la.

4 de janeiro de 2012

Pequenezas

Os pormenores me encantam...
Sou vírgula
Os detalhes me enternecem
Sou orvalho
As miudezas me deliciam,
nesse instante, sou botão
As pequeninas demostrações
de afeto são divinas
e para isso, estou
eternamente a disposição...