4 de fevereiro de 2013


O calor molhava de suor
o caminho que nos levava ao riacho
Lá, panelas ganhavam brilho perante a mistura
do sabão de coco à areia molhada
Louças voltavam a cor original, tendo realçados
seus mais finos traços e desenhos delicados
Talheres sujeitavam-se ao polimento da bucha vegetal
sob os olhares da natureza silenciosa e contemplativa
Ao final, tudo era ajeitado no interior da gamela
com a mesma doçura de quem desperta a primavera,
tece rendas ou tinge ou quintal.



Lá na roça, onde tudo era verde a colher
eu, sozinha, me bastava.
Tinha o dia nas mãos e pronto o tecido da noite
Bebia da chuva, vestia a primavera,
falava laranjeiras e ouvia maracujás
Tudo era sabor de araçá.
Sombras escondiam o chão, árvores cochilavam,
sementes germinavam leituras e livros floresciam margaridas
O mundo amadurecia lenta e sabiamente 
perante o silêncio das palavras e
dos meus mais frescos sorrisos de cachoeira.