Quando os sapatos já estão gastos,
quando a linha se desprende da roupa,
quando o tecido, puído, desfaz o bordado,
o que era encanto perde a graça
e a vida, de repente, leva embora o que até então,
pertencia tão somente as delícias do coração.
Quando os fios dos cabelos perdem o tom,
quando as mãos, buscam, em vão,
o que antes era fácil e tão somente seu,
o que era encanto perde a graça...
Discretamente o tempo vai, assim, fechando as portas
e o que era belo, já não se nota:
Lembranças de dias claros,
perfumes de primaveras,
sonhos doces, quimeras,
tornam-se borrões presos em algum canto da memória.
Uma tristeza sem medida invade a casa
onde antes morava a vida
Falta sol, açúcar, sal, falta tempo.
O silêncio toma conta de tudo
e a quietude passa, por fim, a ser normal.
Quando no desalento conseguimos
ResponderExcluiridentificar alguma beleza e alcançar uma poesia,
uma única poesia,
confirmamos: nem tudo está perdido, puido, roto,
e neste dia resgatamos
esperança, ímpeto, alegria, que, agora vemos,
por quase um nada se perdiam!