31 de maio de 2011

O que antes era encanto

Quando os sapatos já estão gastos,
quando a linha se desprende da roupa,
quando o tecido, puído,  desfaz o bordado,
o que era encanto perde a graça
e a vida, de repente, leva embora o que até então, 
pertencia tão somente as delícias do coração.
Quando os fios dos cabelos perdem o tom,
quando as mãos, buscam, em vão,
o que antes era fácil e tão somente seu,  
o que era encanto perde a graça...
Discretamente o tempo vai, assim, fechando as portas
e o que era belo, já não se nota:
Lembranças de dias claros,
perfumes de primaveras,
sonhos doces, quimeras,
tornam-se borrões presos em algum canto da memória.
Uma tristeza sem medida invade a casa
onde antes morava a vida
Falta sol, açúcar, sal, falta tempo.
O silêncio toma conta de tudo
e a quietude passa, por fim, a ser normal.

Um comentário:

  1. Quando no desalento conseguimos
    identificar alguma beleza e alcançar uma poesia,
    uma única poesia,
    confirmamos: nem tudo está perdido, puido, roto,
    e neste dia resgatamos
    esperança, ímpeto, alegria, que, agora vemos,
    por quase um nada se perdiam!

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