5 de fevereiro de 2010

Alinhavos

Na caixa de agulhas e linhas da minha avó,
havia uma linha que bordava cores na infância
e alinhavava o que de ruim poderia vir.
Eu herdei a caixa, mas,
nunca soube como ela,
costurar o tecido das infâncias
que a mim se apresentaram.

Bordo cores variando nuances, mas,
a linha sempre estoura nos alinhavos...
Venho, dia a dia, aumentando os bordados
para compensar a fragilidade
com que realizo os alinhavos...
Na esperança de que o pior nunca se apresente,
na esperança de que o pior nunca possa vir
intimidado pela variedade de cores,
intimidado pela quantidade de bordados...

O labor

No fogo,
o doce apura o gosto
A fruta serve a polpa
que o açúcar cuida de realçar.
No quintal,
Maria apura o branco
A água lhe serve o meio
que o trabalho cuida de realçar.

A senhora

A elegância da palavra, a sutileza.
A elegância da palavra, a nobreza.
A elegância da palavra, o porte altivo,
o jeito antigo de caminhar.

A palavra é uma senhora
de extrema delicadeza,
uma senhora de modos finos,
de caráter admirável.
Com essa senhora,
sento-me todo dia à mesa,
nas nossas velhas cadeiras
de espaldar alto.
Assim, costuramos e fiamos textos
que o livro da vida a nós confiou.

A poesia da imagem