31 de maio de 2011

O que antes era encanto

Quando os sapatos já estão gastos,
quando a linha se desprende da roupa,
quando o tecido, puído,  desfaz o bordado,
o que era encanto perde a graça
e a vida, de repente, leva embora o que até então, 
pertencia tão somente as delícias do coração.
Quando os fios dos cabelos perdem o tom,
quando as mãos, buscam, em vão,
o que antes era fácil e tão somente seu,  
o que era encanto perde a graça...
Discretamente o tempo vai, assim, fechando as portas
e o que era belo, já não se nota:
Lembranças de dias claros,
perfumes de primaveras,
sonhos doces, quimeras,
tornam-se borrões presos em algum canto da memória.
Uma tristeza sem medida invade a casa
onde antes morava a vida
Falta sol, açúcar, sal, falta tempo.
O silêncio toma conta de tudo
e a quietude passa, por fim, a ser normal.

20 de maio de 2011

Árido

Tudo era simples e frágil e eu sabia...
Tudo era doce e o sal não existia
Até que a noite entrou pela porta
quando ainda era hora do dia
Uma aridez sem fim, então, se apresentou
e sem pedir licença habitou em mim
A memória aos poucos se perdeu,
os olhos desconheceram a luz,
a palavra afastou-se da voz...
Vivo agora o inverno
como se outra estação não houvesse
Ouço chamados, mas, não tenho respostas.
Perante a escuridão e a ausência de afetos
cubro-me com retalhos do passado e durmo sobre mim.