A primeira vez
que ouviu aquela palavra
foi como se o tempo parasse. Ternura.
Algo lhe remetia a renda aplicada
ao tecido de algodão,
a pronúncia do sim e
ao caramelo recebido,
nos domingos, ao fim da feira.
Ternura.
Necessitou, pois, ter, para saber.
Buscou na relação diária,
no convívio da casa,
na confraternização da sala apertada.
Buscou nas relações esparsas:
nasvisitas do verdureiro,
no moço que lhe entregava as
poucas e tão vazias cartas.
Nada encontrou do que prometia.
Buscou nos sonhos,
mas descobriu não tê-los.
Esqueceu, como se esquecem
canções de ninar,
como se esquece a dor do parto
e o leite no fogão.
Anos depois, ao ler um livro,
saltou por duas vezes aquela palavra
e prosseguiu sem, ao menos, notar a falta.
Singelo, belo e profundo.***
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